todo jornalista, antes de ter esse título conferido, passa por uma experiência acadêmica que o obriga a atuar em área que, talvez, não sejam as escolhidas para "seguir carreira". eu mesma, no momento, estou "ralando" na produção de um programa de televisão. e televisão, para mim, é algo distante e impensado. talvez porque, no primeiro período, eu tenha ouvido de uma professora que "a tv é pra gente bonita" e que, portanto, eu deveria me focar em outra mídia. isso ficou em mim, essa semente de incapacidade ficou germinando esses cinco períodos e eu sempre, sempre fugindo de qualquer hipótese de trabalho em televisão, mesmo sabendo que a maior parte dos profissionais da área trabalham atrás da câmera enquanto a fátima bernardes trabalha na frente. mas chega um momento nesses oito períodos que não tem como "fugir da raia". a gente precisa, aliás PRECISA, cursar telejornalismo I e II e, com isso, ter a experiência de produzir, dirigir e "estrelar" reportagens. complicado o negócio, viu? eu tremi nas bases, mas não pude mais adiar... e cá estou eu, em meio a produção de um programa esportivo de doze minutos sobre judô...
eu cheguei com medo, tive pesadelos sobre as gravações, fui avisada que os câmeras iriam me "sacanear" até não poder mais... parti em direção ao meu primeiro trabalho como repórter completamente aterrorizada pelos meus amigos da área. só que isso tudo aí ficou com cara de "conversinha" perto da delícia de experiência que foi a primeira externa, numa academia, com crianças e adultos treinando judô. foi divertido, foi leve, foi cheio de sorriso... uma experiência que eu recomendo, independente dos nervosismos e da timidez de cada um, se ter caso a sua formação seja de jornalismo. saí de lá orgulhosa de mim, orgulhosa do meu trabalho e até com uma pontadinha de tristeza de ter encerrado aquela parte das atividades... foram dias de stress, de pré-produção, de frio na barriga para que, em duas horinhas, tudo estivesse devidamente gravado só aguardando a mágica edição. eu pensei comigo mesma: nossa, foi tudo muito rápido! quero tudo de novo!
em tese eu teria que me contentar com a emoção da primeira gravação, já que a segunda estava destinada a outra parte da minha equipe de trabalho. fiquei um pouco triste... a adrenalina é indescritível! quisera eu comparar a sensação à de pular de bungee jumping, por exemplo... e deve mesmo ser algo semelhante, que deixa a gente ligado em 220 volts e, até acalmar, leva um tempo. eu queria mais daquilo, um pouquinho mais. parece que essa coisa é viciante, não? e aí, de repente, meu celular toca. era quase meia noite, eu não conseguia dormir revendo na minha cabeça aquelas duas horinhas de gravação...
- ana?
- eu! tudo bem?
- tudo bem...
- deu alguma zebra com a minha gravação?
- não! é que eu queria saber se você não quer ir amanhã no IBDD com a gente pra outra gravação...
- eu posso?!
- pode!
- EU QUERO!
e foi assim que, ao invés de descansar daquela carga de fortes emoções televisivas, eu dormi pouco mais de cinco horas, peguei uma de engarrafamento e fui parar no flamengo para gravar uma matéria sobre judô paraolímpico.
se o clima do dia anterior na academia era de "farra", com crianças e adultos treinando aos montes, muito barulho e muito espaço para a nossa descontração, no IBDD era tudo ao contrário. silêncio, espaço apertado, apenas seis atletas treinando. pensei, de cara, que aquilo não ia dar muito certo... o silêncio inibe a gente mais ainda. e o pessoal já estava suficientemente inibido com medo da câmera! a condição dos atletas, alguns parcialmente e outros totalmente cegos, também deixou o pessoal com um pé atrás. como agir e interagir com eles sem fazer ou dizer alguma coisa errada? clima pesado.
fizemos as imagens de treino, gravamos três perguntas com o professor, filmamos os troféus... e, na hora de entrevistar os atletas, o coração ficou pequeno e apertado. primeiro o wilton, cego B2 - classificação que prevê cegueira parcial -, que falou muito sinceramente do quanto estar ali praticando judô o havia ajudado a vencer o preconceitos dos outros. minha garganta deu um nó. tive vontade de chorar, mas me contive.
depois, o roberto paixão. esse já era meu "velho conhecido"... eu já tinha ouvido falar muito dele nesses meus quase sete meses de convivência com praticantes de judô. mas estar ali, cara a cara com ele, era, pelo menos, dez vezes mais intimidante. o roberto foi tranqüilo. falou de superação. falou de ser um atleta completo. falou que ser cego não limita, que ser cego não diminui a sua vontade de vencer. as lágrimas que eu contive na frente do wilton começaram a cair... eu fiquei pensando: eu fugi, pelo menos, três períodos de encarar essa matéria e fazer esse trabalho... eu que enxergo, que ouço, que tenho total mobilidade. o roberto tá aqui, dando exemplo, falando pra mim que nada limita ele, que ele não tem medo de nada e nem de ninguém... e ele não enxerga. eu sou mesmo muito pequena.
chorei copiosamente. a gente nunca entende o quão pequeno a gente é até esbarrar numa pessoa gigante. e o roberto paixão é baixinho! *risos* mas é gigante. passou a ser gigante ali naqueles trinta segundos de sonora. e ficou, com toda a certeza, marcado em mim. de tudo que eu aprendi nessa primeira parte do trabalho, de tudo que eu vi e de tudo que eu fiz, vai ser dessa sonorinha do roberto paixão que eu vou lembrar pela minha vida inteira. vai ser dele falando de superação, falando que limite é a gente que cria na nossa cabeça, falando que a gente tem que cumprir com o que é da nossa vontade.
e é da minha vontade, agora, dividir um pouco dessa experiência com vocês... assim, nessas linhas desajeitadas mesmo. porque eu não sei dizer direito, com palavras pomposas e tal, o que aquele momento significou para mim. mas eu sei dizer que todo mundo devia ter um momento dessa e pensar na sua pequenez... seja ela qual for, seja ela como for.
eu cheguei com medo, tive pesadelos sobre as gravações, fui avisada que os câmeras iriam me "sacanear" até não poder mais... parti em direção ao meu primeiro trabalho como repórter completamente aterrorizada pelos meus amigos da área. só que isso tudo aí ficou com cara de "conversinha" perto da delícia de experiência que foi a primeira externa, numa academia, com crianças e adultos treinando judô. foi divertido, foi leve, foi cheio de sorriso... uma experiência que eu recomendo, independente dos nervosismos e da timidez de cada um, se ter caso a sua formação seja de jornalismo. saí de lá orgulhosa de mim, orgulhosa do meu trabalho e até com uma pontadinha de tristeza de ter encerrado aquela parte das atividades... foram dias de stress, de pré-produção, de frio na barriga para que, em duas horinhas, tudo estivesse devidamente gravado só aguardando a mágica edição. eu pensei comigo mesma: nossa, foi tudo muito rápido! quero tudo de novo!
em tese eu teria que me contentar com a emoção da primeira gravação, já que a segunda estava destinada a outra parte da minha equipe de trabalho. fiquei um pouco triste... a adrenalina é indescritível! quisera eu comparar a sensação à de pular de bungee jumping, por exemplo... e deve mesmo ser algo semelhante, que deixa a gente ligado em 220 volts e, até acalmar, leva um tempo. eu queria mais daquilo, um pouquinho mais. parece que essa coisa é viciante, não? e aí, de repente, meu celular toca. era quase meia noite, eu não conseguia dormir revendo na minha cabeça aquelas duas horinhas de gravação...
- ana?
- eu! tudo bem?
- tudo bem...
- deu alguma zebra com a minha gravação?
- não! é que eu queria saber se você não quer ir amanhã no IBDD com a gente pra outra gravação...
- eu posso?!
- pode!
- EU QUERO!
e foi assim que, ao invés de descansar daquela carga de fortes emoções televisivas, eu dormi pouco mais de cinco horas, peguei uma de engarrafamento e fui parar no flamengo para gravar uma matéria sobre judô paraolímpico.
se o clima do dia anterior na academia era de "farra", com crianças e adultos treinando aos montes, muito barulho e muito espaço para a nossa descontração, no IBDD era tudo ao contrário. silêncio, espaço apertado, apenas seis atletas treinando. pensei, de cara, que aquilo não ia dar muito certo... o silêncio inibe a gente mais ainda. e o pessoal já estava suficientemente inibido com medo da câmera! a condição dos atletas, alguns parcialmente e outros totalmente cegos, também deixou o pessoal com um pé atrás. como agir e interagir com eles sem fazer ou dizer alguma coisa errada? clima pesado.
fizemos as imagens de treino, gravamos três perguntas com o professor, filmamos os troféus... e, na hora de entrevistar os atletas, o coração ficou pequeno e apertado. primeiro o wilton, cego B2 - classificação que prevê cegueira parcial -, que falou muito sinceramente do quanto estar ali praticando judô o havia ajudado a vencer o preconceitos dos outros. minha garganta deu um nó. tive vontade de chorar, mas me contive.
depois, o roberto paixão. esse já era meu "velho conhecido"... eu já tinha ouvido falar muito dele nesses meus quase sete meses de convivência com praticantes de judô. mas estar ali, cara a cara com ele, era, pelo menos, dez vezes mais intimidante. o roberto foi tranqüilo. falou de superação. falou de ser um atleta completo. falou que ser cego não limita, que ser cego não diminui a sua vontade de vencer. as lágrimas que eu contive na frente do wilton começaram a cair... eu fiquei pensando: eu fugi, pelo menos, três períodos de encarar essa matéria e fazer esse trabalho... eu que enxergo, que ouço, que tenho total mobilidade. o roberto tá aqui, dando exemplo, falando pra mim que nada limita ele, que ele não tem medo de nada e nem de ninguém... e ele não enxerga. eu sou mesmo muito pequena.
chorei copiosamente. a gente nunca entende o quão pequeno a gente é até esbarrar numa pessoa gigante. e o roberto paixão é baixinho! *risos* mas é gigante. passou a ser gigante ali naqueles trinta segundos de sonora. e ficou, com toda a certeza, marcado em mim. de tudo que eu aprendi nessa primeira parte do trabalho, de tudo que eu vi e de tudo que eu fiz, vai ser dessa sonorinha do roberto paixão que eu vou lembrar pela minha vida inteira. vai ser dele falando de superação, falando que limite é a gente que cria na nossa cabeça, falando que a gente tem que cumprir com o que é da nossa vontade.
e é da minha vontade, agora, dividir um pouco dessa experiência com vocês... assim, nessas linhas desajeitadas mesmo. porque eu não sei dizer direito, com palavras pomposas e tal, o que aquele momento significou para mim. mas eu sei dizer que todo mundo devia ter um momento dessa e pensar na sua pequenez... seja ela qual for, seja ela como for.