16 de janeiro de 2008

prosa poética para observar o amado.

eu vou ficar aqui olhando você, enquanto você observa um ponto cego no meio das luzes da mém de sá. e você vai mastigar aquele pedaço de massa. e você vai me mastigar junto. e vai mastigar minha alma, vai mastigar meu coração, vai mastigar todo e qualquer sentimento. eu vou ficar aqui ouvindo o barulho dos seus dentes e da sua respiração. e vou observar atentamente a irregularidade da sua barba descendo pelo queixo, subindo pela nuca, áspera e escura.

silêncio. não me peça para dizer nada. esse momento pede silêncio e concentração. quero fotografar você nas minhas lembranças. assim, vulnerável. tão perdido nos próprios pensamentos como se nada pudesse interferir, como se o mundo ao seu redor não estivesse ali. silêncio.

eu não entendo das razões de ser ou estar, de transformar ou de ter. mas eu entendo da razão de sentir. ou melhor, da não-razão. o sentir fica muito irracional nesse segundo em que o resto do universo se cala e eu posso gravar você na minha memória.

um dia, virá o fim à galope. você sabe, eu sei. um dia ele chega. e o que vai me restar é essa sua imagem, a meia luz desse restaurante, procurando na distância um foco, procurando em você mesmo o que fazer, o que dizer, no que acreditar. não vai ter som. talvez nem tenha cor. só vai ter a sua essência, o "você" que é realmente você, de expressão perturbada e ar melancólico.

eu quero e vou ficar aqui observando você, sem uma palavra sequer. sem contar dos dias que vieram antes, sem pensar nos dias que poderão vir depois. pois o fim... o fim pode chegar ao amanhecer quando essas luzes derem lugar a um sol que vai refletir nos arcos. mas eu vou ter você em mim como só eu sei que posso ter, capturado do jeito que eu quis, para lembrar como eu bem entender.