16 de fevereiro de 2008

prosa poética para quem leu caio f.


(caio f. me entenderia. acho que, em especial, porque ele entendeu de fazer muitas coisas erradas, pedir desculpas, amar pessoas erradas e escrever sobre elas. caio f., certamente, me entenderia.)


eu sou diferente do que eu escrevo. o que eu escrevo é um momento e cada momento há de passar. assim sendo, tudo que escrevo se perde. e se perdendo de mim faz com que, automaticamente, eu seja diferente agora do que escrevi há dois anos atrás. é como mágica. não passa de ilusão, de uma alusão ao real momentâneo. cada segundo é criação e morte de uma nova nuance sentimental. será que você me entende? será que você entende quando me lê que eu escrevo para você?

o escritor é mesmo um ser cruel que inventa e vive apaixonando-se pelo menos óbvio, buscando incessantemente um sofrimento qualquer que se transponha para o papel. vou assim matando-me. e faço isso para que você me leia em diferentes situações. rasgo o que for antigo, o que eu disse e precisou, por motivo qualquer, ser desdito. rasgo as lembranças em prol do que virá, se é que virá.

você me vê até como um pedaço de carne, como uma garotinha de vinte e poucos anos, como um par de pernas, um par de seios e uma boca saliente. mas você não sabe - creio eu que não saiba, não há como saber - que é exercendo essa miserável sina de quem escreve que ponho todas as diferenças, todos os diferentes momentos, todas as diferentes nuances do meu sentimento aqui.

"é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada."**





"
and then, one day he said:
'girl it's been nice, but i have to go sailing'
with cinnamon lips that did not match his eyes
he let me go."
(snow cherries from france; tori amos.)



** in anotações insensatas, caio f.