14 de fevereiro de 2008

poema para um quase-alguém






o quase-prazer
é o quase-momento
em que eu e você
quase nos encontramos

portanto, o quase-prazer é isso
estar no meio dessa gente toda
andando pelas mesmas ruas
tomando as mesmas conduções
bebendo nos mesmos copos dos mesmos bares

o quase-prazer é esse instante roubado
em que me levanto e abro a janela, me espreguiço
em que o serguei toca no rádio, se é que isso é possível
é um suspiro indelével dos chistes do destino

quase é o muro bege
ou seriam as janelas do prédio vizinho?
quase é o cachorro que late
quase são os amigos em comum
quase é um mero detalhe

dormir junto separado é quase
e quase é ter a foto na cabeceira
quase é dançar desengonçado

um quase-prazer, eu diria
é brincar de gato e rato
esperando que, um dia
um lado quase ceda

uma quase-preguiça, um quase-riso
uma quase-timidez, sua quase-simpatia
o quase é quase nada mas pode ser muita coisa
um quase-tudo, dependendo do dia

quase-você
é como eu gosto de chamar
esse meu quase-prazer
de conhecer sem conhecer
e de provocar sem nem saber
se um dia, um quase-dia, quiçá
a gente se encontra p'ro acerto de conta.





"their words, mostly noises
ghosts with just voices
your words in my memory
are like music to me..."
(set fire to the third bar; snow patrol.)