"a minha solidão é a do planeta, eu sei." - (oswaldo montenegro)
todos os dias pego os mesmos ônibus, vou para os mesmos lugares, faço as mesmas coisas... um ciclo, em looping, uma liberdade pressuposta, uma solidão assistida. estou só ainda que comprimida pela superlotação de pessoas no 438 via túnel rebouças. estou só entre trinte e nove outros alunos da minha turma. estou só entre os outros colaboradores da tv estácio. estou só nas ruas. estou só em casa.
insisto em repetir o clichê que "só a mudança é permanente". mas a mudança hoje é uma mudança igual. a mesma mudança que veio para os meus avós, veio para os meus pais, vem para mim. ainda que com toques sutis de "novidade", a essência dos acontecimentos é a mesma: estamos todos presos a otimização do tempo nesses dias e, consequentemente, a otimização dos sentimentos.
otimizar um sentimento é tornar-se robótico. hoje me dei conta do quão mecânica eu sou dentro dessa coisa toda que é imposta como "maneira correta de se viver". tenho hora para sair, para chegar, para comer, para dormir... tudo em função do obedecimento desse ciclo de mesmos ônibus, mesmos lugares, mesmas coisas. onde está o elemento surpresa?
percebi que não espero mais ligações diferentes no celular. posso catalogar todas as que recebo. minha mãe me liga para saber se almocei, se vou almoçar, se lembrei de ir ao médico/banco/cabelereiro... meu pai me liga para saber se estou em casa, se vou chegar em casa, se eu sei onde está minha mãe - que, incrivelmente, parece nunca atender o celular quando ele liga! meus colegas me ligam para saber de matéria tal que está sendo feita, de trabalho tal que precisa ser entregue, de exercício tal para aula tal de professor tal... meu namorado me liga estritamente quando eu peço para que ele me avise se vai passar em minha casa ou não. a operadora de celular me liga para me oferecer um novo plano... plano esse desnecessário, já que as minhas ligações são pontuais e cabem perfeitamente no meu plano atual. as pessoas não ligam porque precisam ouvir a minha voz... não mais.
percebi, também, que não espero visitas. se a campainha toca enquanto estou em casa, certamente é algum entregador, algum marcador ou o carteiro. ninguém, hoje em dia, tem o tempo disponível de tocar a campainha de outra pessoa só porque sentiu saudade, porque queria ver e conversar...
estou sozinha. e vivenciando aquela solidão que todos dizem ser a pior... aquela solidão de ser sozinho entre muitos. todos nós, em algum momento, somos sozinhos entre muitos. seja todas as manhãs no mesmo ônibus que, por via de regra, carrega as mesmas pessoas para os mesmos lugares. todos nós conhecemos, nos habituamos uns aos outros, mas nos mantemos sós em nós mesmos. às vezes isso acontece dentro da nossa própria casa. cada um tem seu quarto, sua televisão, seu computador, seus livros e discos... e ninguém tem um motivo para conversar.
triste é saber que a gente se acostuma com isso. a gente se acostuma a não esperar por uma coisa boa e diferente nos nossos dias. a gente se acostuma a caber nessa solidão e ter hora e regra para tudo... corpo e coração se acostumam com os horários até para receber carinho.
e vamos vivendo essa mecanização do que costumava ser humano... ficando cada dia mais sozinhos em nós mesmos, com medo até de nos expressarmos espontâneamente... o que diriam os outros robôs a nossa volta se, porventura, resolvêssemos quebrar esse ciclo?
somos uma boiada caminhando junta, mas sem interagirmos. e, por mais triste que isso soe, estamos acostumados e acreditamos que isso seja normal. eu mesma não acredito mais em surpresas... apenas em acontecimentos que podem estar maquiados de novidade, mas são sempre, em essência, a mesma coisa.
e em essência, estamos todos sós.
todos os dias pego os mesmos ônibus, vou para os mesmos lugares, faço as mesmas coisas... um ciclo, em looping, uma liberdade pressuposta, uma solidão assistida. estou só ainda que comprimida pela superlotação de pessoas no 438 via túnel rebouças. estou só entre trinte e nove outros alunos da minha turma. estou só entre os outros colaboradores da tv estácio. estou só nas ruas. estou só em casa.
insisto em repetir o clichê que "só a mudança é permanente". mas a mudança hoje é uma mudança igual. a mesma mudança que veio para os meus avós, veio para os meus pais, vem para mim. ainda que com toques sutis de "novidade", a essência dos acontecimentos é a mesma: estamos todos presos a otimização do tempo nesses dias e, consequentemente, a otimização dos sentimentos.
otimizar um sentimento é tornar-se robótico. hoje me dei conta do quão mecânica eu sou dentro dessa coisa toda que é imposta como "maneira correta de se viver". tenho hora para sair, para chegar, para comer, para dormir... tudo em função do obedecimento desse ciclo de mesmos ônibus, mesmos lugares, mesmas coisas. onde está o elemento surpresa?
percebi que não espero mais ligações diferentes no celular. posso catalogar todas as que recebo. minha mãe me liga para saber se almocei, se vou almoçar, se lembrei de ir ao médico/banco/cabelereiro... meu pai me liga para saber se estou em casa, se vou chegar em casa, se eu sei onde está minha mãe - que, incrivelmente, parece nunca atender o celular quando ele liga! meus colegas me ligam para saber de matéria tal que está sendo feita, de trabalho tal que precisa ser entregue, de exercício tal para aula tal de professor tal... meu namorado me liga estritamente quando eu peço para que ele me avise se vai passar em minha casa ou não. a operadora de celular me liga para me oferecer um novo plano... plano esse desnecessário, já que as minhas ligações são pontuais e cabem perfeitamente no meu plano atual. as pessoas não ligam porque precisam ouvir a minha voz... não mais.
percebi, também, que não espero visitas. se a campainha toca enquanto estou em casa, certamente é algum entregador, algum marcador ou o carteiro. ninguém, hoje em dia, tem o tempo disponível de tocar a campainha de outra pessoa só porque sentiu saudade, porque queria ver e conversar...
estou sozinha. e vivenciando aquela solidão que todos dizem ser a pior... aquela solidão de ser sozinho entre muitos. todos nós, em algum momento, somos sozinhos entre muitos. seja todas as manhãs no mesmo ônibus que, por via de regra, carrega as mesmas pessoas para os mesmos lugares. todos nós conhecemos, nos habituamos uns aos outros, mas nos mantemos sós em nós mesmos. às vezes isso acontece dentro da nossa própria casa. cada um tem seu quarto, sua televisão, seu computador, seus livros e discos... e ninguém tem um motivo para conversar.
triste é saber que a gente se acostuma com isso. a gente se acostuma a não esperar por uma coisa boa e diferente nos nossos dias. a gente se acostuma a caber nessa solidão e ter hora e regra para tudo... corpo e coração se acostumam com os horários até para receber carinho.
e vamos vivendo essa mecanização do que costumava ser humano... ficando cada dia mais sozinhos em nós mesmos, com medo até de nos expressarmos espontâneamente... o que diriam os outros robôs a nossa volta se, porventura, resolvêssemos quebrar esse ciclo?
somos uma boiada caminhando junta, mas sem interagirmos. e, por mais triste que isso soe, estamos acostumados e acreditamos que isso seja normal. eu mesma não acredito mais em surpresas... apenas em acontecimentos que podem estar maquiados de novidade, mas são sempre, em essência, a mesma coisa.
e em essência, estamos todos sós.